domingo, dezembro 31, 2006


"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no
limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e
entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra
diante vai ser diferente"


Talvez eu compre umas flores para enfeitar a casa, flores brancas deIemanjá. Vai ser difícil encontrar alguma coisa aberta amanhã na Lapa,comsorte o supermercado. Devia ter pensado nas flores antes. Sem trabalhar, comas crianças viajando fico meio perdida no tempo. E para falar a verdade eratudo o que eu queria, uns dias assim sem relógio. Esqueci também de comprarum champanhe, mas isso eu encontro fácil, pelo menos eu acho . Amanhã nãoligo o computador não, hoje fiquei quase o dia todo escrevendo, vendo fotos,visitando amigos. Casas virtuais, mas amigos reais,até os que eu ainda nãoconheci de perto. Andei longe esse ano, longe até de mim. Quase me perdi,oume perdi, sei lá. Mas o ano já vai embora e não tem como não lembrar deDrummond e os versos colados lá em cima,e de um poema do Jorge Luis Borges,bonito, perfeito, mas grande demais para copiar aqui agora, então tive acara de pau de resumir.

Felicidade para nós!

Salve 2007!

Quero dar graças ao divino
Labirinto dos efeitos e das causas
Pela diversidade das criaturas
Que formam este singular universo,
Pela razão, que não cessará de sonhar
Com um plano do labirinto,
Pelo amor, que nos deixa ver os outros
Como os vê a divindade,
Pelo firme diamante e pela água solta,
Pela álgebra, palácio de precisos cristais,
Pelo fulgor do fogo,
Que nenhum ser humano pode olhar sem um assombro antigo,
Pelo mogno, pelo cedro e pelo sândalo,
Pelo pão e pelo sal,
Pelo mistério da rosa
Que prodigaliza cor e não a vê,
Por certas vésperas e dias do ano,
Pela arte da amizade,
Pelos rios secretos e imemoriais
Que convergem em mim,
Pelo mar, que é um deserto resplandecente
E uma cifra de coisas que não sabemos
Pelo aroma medicinal dos eucaliptos,
Pela linguagem, que pode simular a sabedoria,
Pelo esquecimento, que anula ou modifica o passado,
Pelo costume,
Que nos repete e nos confirma como um espelho,
Pela manhã, que nos depara a ilusão de um princípio,
Pela noite, sua treva e sua astronomia,
Pelo valor e pela felicidade dos outros,
Pelo fato de que o poema é inesgotável
E se confunde com a soma das criaturas
E jamais chegará ao último verso
E varia segundo os homens,
Pelos íntimos dons que não enumero,
Pela música, misteriosa forma do tempo.

(de Outro Poema dos Dons, Jorge Luis Borges)

3 Comments:

Blogger Ricardo Almeida said...

É maravilhoso poder te ler de novo, mesmo no final deste ano em que tantos de nós brincaram de se perder e se achar. Brincadeira por vezes dolorosa, mas necessária, como toda brincadeira. O inacamento é nossa angústia e nosso milagre. Faz com que prossigamos, com que busquemos o outro. É um privilégio ter tua amizade e acesso a tuas palavras.
Beijo carinhoso e um 2007 pleno das contradições e alegrias humanas!

12:40 PM  
Blogger Ricardo Almeida said...

Obrigado por voltar a compartilhar seus texto conosco.
Um 2007 humano, demasiadamente humano.
Beijos.

12:42 PM  
Blogger Alessandro said...

Oláááááá, Neysi!

Que 2007 seja um labirinto da falta de sentido e que o desafio seja novamente encontrar algum, em alguma coisa. Que seja na palavra, mas que seja num gesto, numa manhã de sol ou no sorriso de uma criança.

Beijão pra ti! :-)

A. de Paula

12:00 PM  

Postar um comentário

<< Home