domingo, abril 23, 2006



(do escuro)


não há versos na gaveta
nenhum segredo guardado

escuro

- as coisas também morrem


***



fotos dormem entre páginas
de papelão cinzento

são menos tristes assim que as
que se esquecem nas paredes
e nos observam de molduras ovais


***


moedas antigas
permanecem na bolsa

o troco da avó
o pão embrulhado
a cama de barbante

pessoas passam depressa demais


***

nada era novo
nem a louça, nem os móveis
nem a colcha que viajou de navio
e a prata do faqueiro
tudo impregnado de tristeza vaga
e a ilusão de trazer
como mofo ou poeira
a eternidade agarrada


***

acordar todo dia
no velho quarto de duas janelas
dobrar o tempo até chegar à casa de agora
compreender afinal a geografia confusa dos velhos

8 Comments:

Blogger Alessandro said...

Triste e belo, Neysi. Triste e belo.

E, sim, fazer estas viagens faz bem demais. Que bom que Floripa fez bem a você! :-) Não fez bem ao meu time, mas isto é outra estória (tomou 6 gols lá). Eh eh eh!!

Agora, voltando à rotina, que mata. Mas eu resisto.

Beijão, querida! Té mais! :-)

1:44 PM  
Anonymous Anônimo said...

há sempre um silêncio, uma escada e um escuro, e nossas mãos tateando no tempo. Beijo.

9:20 AM  
Blogger Alessandro said...

Há, no Viagem, a primeira parte do relato sobre Salvador. Dá uma chegadinha lá, Neysi, e vê o que acha.

Beijão!

5:32 PM  
Blogger dade amorim said...

So' quem conheceu uma casa antiga, talvez a casa dos avós, pode entender bem esse poema (acho que na verdade é um só...). Lindo, Neisy. Beijo.

8:20 PM  
Blogger Alessandro said...

Nunca mais?

Beijão, Neysi!

8:12 PM  
Blogger Alessandro said...

Então, Neysi, é Amarcord, sim. Eu tinha planejado assistir hoje, em casa, se eu voltasse do trabalho num horário legal. Mas uma liquidação de DVDs (ah, o cinema...) me pegou de jeito e fui às compras, isso sim (pode me chamar de "fútil cultural"... ah ah ah!).

Já a foto de baixo é 2046, o último filme do Wong Kai-War (um diretor chinês que é "discípulo" do Antonioni). Falei que eram dias de cinema oriental porque sábado começo a acompanhar uma mostra de filmes da terra do sol nascente que já está rolando a uns dias por aqui.

Nossa... estou muito cinéfilo nestes dias... eh eh eh!

E não desista do seu blog. Já tive momentos em que quis desistir, também. Mas a necessidade que tenho de diálogo, por mais que às vezes pareça monólogo, é sempre maior que o desânimo. Pra mim, é imperativo que eu exponha o que tenho na minha cabeça inquieta e confusa aos meus amigos leitores. Então, força. Quero ver o seu tradicional bom gosto de volta.

Beijão! Até mais!

1:26 AM  
Anonymous Anônimo said...

Bonito tudo: o poema, a foto. Gostei mesmo muito. Voltarei depois para ver e ler os outros.
Um beijo e obrigado pelo comentário lá no Café!

12:43 AM  
Anonymous Nádia said...

Ah meu Deus....achei infinitamente lindo....a saudade pode não ser triste....
Pode ter o cheiro da escada da casa q eu sonhei um dia pra mim. Vc sabe qual Neisoca.
Ou o cheiro do quintal, do meu "navio"...cheiro de mimosa.
Tua poesia é cheirosa!
Te amo mana

12:54 AM  

Postar um comentário

<< Home