domingo, abril 03, 2005



Bonecas


Caixas embrulhadas em papel pardo sobre o armário da avó.
Preservadas de mim, minhas bonecas não podiam brincar.
Aguardávamos sonhadoras o dia da faxina grande, da troca
dos papéis, do desembrulhar de tudo. Dia de festa, de vez em quando chegava.
Intervalos e esperas, esquecimento. Os olhos tornaram-se opacos, a pele de vinil desbotou.
A mãe não sabia que bonecas envelhecem na caixa.
Uma culpa sem graça nos seus olhos negros, mais infantis que os meus.