terça-feira, fevereiro 07, 2006





Para escrever um único verso é preciso ter visto muitas cidades, homens e coisas. É necessário pensar em caminhos de regiões desconhecidas, em encontros inesperados, em despedidas, e ter-se recordado de muitas noites de amor onde nunca nenhuma se parece com a outra. Ter permanecido ao lado dos agonizantes e dos mortos. E tampouco basta ter recordações.É preciso saber esquecê-las e ter a paciência de esperar que voltem. Pois as lembranças mesmas não são apenas isto. E enquanto não se transformam em sangue, olhar, gesto, quando já não tem nome e não podem ser separadas do nosso próprio ser, aí então é possível que aconteça, em uma hora muito rara, se elevar do centro delas a primeira palavra de um verso.




Rainer Maria Rilke