
"O dia seguinte de repente antes do sim.Não faço a menor questão de fazer sentido. Basta o meu amor redivivo." Torquato Neto
A Hora
Logo eu que tinha tanto medo que você fosse embora. Olho para o branco do teto e o reflexo rosa das cortinas na parede. Ainda é cedo, a casa dorme, eu se pudesse dormiria, mas só consigo olhar o teto.Tudo ficou tão estranho. A cama é pequena, o apartamento é pequeno, a cidade é pequena ou pequeno talvez só o meu amor. Ah meu Deus! O meu amor é pequeno ou a sede grande demais.
Hora de ir embora. Cubro o rosto, me agarro ao travesseiro.
Hora de ir embora, mas não são as mulheres que vão embora, eu devia querer ficar.
Faço café forte, bebo sem açúcar, não gosto de bebida doce. Ando pela sala vazia, os pés descalços estranham a tábua corrida, nada aqui me pertence, não me reconheço na casa, nem a casa me reconhece, apesar de tudo aqui ter sido escolhido por mim e nem faz tanto tempo. Apego, apego e desejo , a razão de todo sofrimento. Eu queria me apegar agora aos quadros, tapetes, às roupas no armário, a você dormindo tão quieto, desejar ficar, sentir ciúmes, raiva, qualquer coisa diferente desse estranhamento, dessa vontade de ir embora,logo eu que tinha tanto medo que você fosse.
(Prosa Sem Batom/ fragmento)
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