sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Celso, Quintana, eu e minha saudade às avessas...



A cidade invadiu o canto desprotegido
do sabiá do peito amarelo.

A cidade assaltou o trinado desamparado
do sabiá do peito vermelho.

Por isso o canto desprotegido do sabiá
do peito amarelo,
pousado naquela árvore de concreto,
tem um gosto amargo de cimento.

Por isso, o trinado desamparado
do sabiá do peito vermelho,
pousado naquela janela de metal,
tem um cheiro podre de asfalto.

A cidade extinguiu o existir episódico
do grilo cantante.

Por isso o cri-cri monofônico do grilo,
perdeu-se na polifonia desvairada
dos fon-fons.

O sol derreteu as cores esvoaçantes
da borboleta transparente.

Por isso, a borboleta transparente,
rasteja o hálito das flores de plástico,
em busca da seiva cromática.


A cidade vai caminhando voraz


(Celso Cirilo, 2009)



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Onde estão os meus verdes?
Os meus azuis?
O arranha-Céu comeu!
E ainda falam nos mastodontes, nos brontossauros, nos tiranossauros,
Que mais sei eu...Os verdadeiros monstros, os Papões, são eles, os arranha-céus!
Daqui
Do fundo
Das suas goelas,
Só vemos o céu, estreitamente, através de suas empinadas gargantas ressecadas.
Para que lhes serviu beberem tanta luz?!
Defronte
À janela onde trabalho
Há uma grande árvore...Mas já estão gestando um monstro de permeio!
Sim, uma grande árvore... Enquanto há verde,
Pastai, pastai, olhos meus...
Uma grande árvore muito verde...
Ah,Todos os meus olhares são de adeus
Como o último olhar de um condenado!

(Poema de Circunstância, Mário Quintana)



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Vagalume perdido
na cozinha escura

abro a janela

entre grilos e estrelas
todas as noites são frias

uma lembrança:
onde estão as janelas,
as esquinas, as luzes,
minha cidade enfeitada?

Encostada ao ladrilho frio
observo voar errante
a circunstância do poema

(Circunstância,2009)